Até 2025, RN precisa qualificar 87 mil trabalhadores para a indústria

Até 2025, o Rio Grande do Norte precisará qualificar 87 mil pessoas em ocupações industriais, sendo 21 mil em formação inicial — para repor inativos e preencher novas vagas — e 66 mil em formação continuada, para trabalhadores que devem se atualizar. As ocupações industriais são aquelas que requerem conhecimentos tipicamente relacionados à produção industrial, mas estão presentes também em outros setores da economia. Os dados são do Mapa do Trabalho Industrial 2022-2025, estudo elaborado pelo Observatório Nacional da Indústria para identificar demandas futuras por mão de obra e orientar a formação profissional de base industrial no País.

Esse mapa “é uma ferramenta de interesse de vários setores que dá um rumo para o planejamento e a tomada de decisão dos vários setores envolvidos”, explica Rafael Mello, diretor regional do Senai-RN. Segundo Mello, a projeção facilita o planejamento da indústria — que vai observar a demanda de qualificação —, para o próprio Senai, que vai analisar quais setores precisam de formação, e para a sociedade, que vai ver quais áreas da indústria estão em desenvolvimento.Nos próximos quatro anos, cerca de 76% da demanda potiguar será em aperfeiçoamento. No Brasil todo, o percentual que precisará passar por aperfeiçoamento é de 79%: 7,6 milhões de pessoas deverão passar por uma formação continuada, e 2 milhões em formação inicial, totalizando 9,6 milhões de brasileiros.

No Estado, a maior necessidade é para as qualificações simples. São 42.476 trabalhadores que deverão se aperfeiçoar em qualificação de menos de 200 horas, enquanto a qualificação de mais de 200 horas demandará a participação de 25.386 industriários. Estes cursos são indicados a jovens e profissionais que buscam desenvolver novas competências e capacidades profissionais para a inserção em uma ocupação e não demandam um nível de escolaridade específico. Ao final, o aluno recebe um certificado de conclusão.

As qualificações técnicas, destinadas a alunos matriculados ou egressos do ensino médio e com carga horária que podem atingir entre 800h e 1200h, aparecem em terceiro lugar, com necessidade de aperfeiçoar a mão de obra de 14.264 pessoas. Em último está a educação superior, com 5.132.

“Aperfeiçoar e ampliar essa formação técnica dos profissionais que atuam na indústria potiguar corrobora diretamente para a melhoria do nível do emprego e aumento da produtividade nas empresas”, opina Amaro Sales de Araújo, presidente do Sistema Fiern”. Outra vantagem, acrescenta, é ampliar as oportunidades para quem busca uma vaga de trabalho. “O Mapa aponta como o mercado de trabalho tem se comportado em meio à crise, além de estimular a maior busca por qualificação apontando onde estão essas vagas”, continua.

Maior demanda por formação está na área têxtil

Das áreas que apresentam maior demanda por formação inicial e continuada, a área têxtil e de vestuário desponta na primeira colocação. Este setor representa 4,5% do Produto Interno Bruto (PIB) do RN, segundo o MAIS RN, o centro de inteligência e pensamento estratégico da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Norte (Fiern). A demanda para a área têxtil é de 17.963 profissionais. Para João Lima, diretor da Coteminas, tanto a indústria têxtil quanto a de confecções vivem um processo de atualização constante. “Os dois setores, de forma geral, sempre requerem muita mão de obra. Sempre vai ter uma demanda por treinamento”.

Jairo Amorim, diretor executivo industrial do Grupo Guararapes, diz que segmento têxtil demanda muito capital para poder estar tecnologicamente atualizado. “Nesse sentido, as grandes empresas são aquelas que têm realmente uma melhor condição para poder fazer essa atualização tecnológica, entrar nessa pista da indústria 4.0 e poder trazer mais competitividade para nosso segmento”.

Entretanto, o diretor destaca o papel da mão de obra manual especialmente na área de vestuário que, “em que pese as iniciativas robotizadas no setor de costura, principalmente, ainda depende muito da habilidade da mão de obra”. Para Amorim, a área têxtil “precisa realmente investir em inovação e treinamentos de profissionais com conhecimentos em inclusão digital”. Já no vestuário, diz, ainda vale a “velha e boa máquina de costura”.

A construção civil também se destaca, necessitando de 15.176 industriários. Na terceira colocação estão as ocupações transversais, que precisam de 12.551. As ocupações transversais são aquelas que permitem ao profissional atuar em diferentes áreas, como técnico em Segurança do Trabalho, técnico de Apoio em Pesquisa e Desenvolvimento e profissionais da Metrologia, por exemplo. “Isso sugere que há um bom desempenho da indústria, que a indústria tem uma previsão de expansão, mas também que tem uma previsão de atualização tecnológica”, afirma Mello.

O diretor do Senai, porém, alerta que a projeção não é de perspectiva de aberturas de novas vagas. “Mas de todo jeito sugere que a indústria está em desenvolvimento, porque ela só busca pessoas adequadas a uma nova tecnologia ou pessoas que tenham competência em uma determinada tecnologia se ela se manter em desenvolvimento”, afirma.

De acordo com Rafael Mello, o SENAI já tinha previsão de qualificar mais de 20 mil pessoas por ano no estado, nos diversos setores industriais, até 2025. Somados, os 80 mil formados planejados pela entidade se aproximam dos 87 mil projetados pelo Mapa do Trabalho Industrial. E, além destes, ainda há os alunos do ensino superior. “Isso veio a ratificar o rumo de planejamento do SENAI”, diz.

Segundo Silvio Bezerra, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Rio Grande do Norte, o setor de construção civil precisa sempre de novas formações, não somente de alto grau de instrução, mas também para funções como pedreiro e servente. Nesse sentido, Bezerra elogia o trabalho do SENAI, que possibilita a qualificação para novos profissionais. Ainda segundo ele, as perspectivas com os números do Mapa do Trabalho Industrial são positivas, já que o mercado da construção registrou aumentos nas demissões dos trabalhadores da indústria nos últimos anos e, agora, pode sonhar em contratar e qualificar novamente.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de pessoas ocupadas no setor caiu 33% entre 2010 e 2019, passando de 36.518 para 24.306 trabalhadores. Assim, os índices da projeção apontam uma recuperação do setor. O presidente também atribui o otimismo à aprovação do Plano Diretor de Natal, que “destravou” os limites para construções e pode reaquecer a área. Porém, Bezerra diz que ainda é cedo para perceber as mudanças e o reaquecimento, o que ele espera para o final de 2022. 

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