Um levantamento realizado pelo Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do RN aponta um crescente número de mulheres com registros na instituição. No ano de 2021, as inscrições femininas corresponderam a 29,51% do total, uma crescente que vem sido observada desde 2017, quando as mulheres eram 24,68% das inscrições. Dos 28.020 profissionais ativos nos registros do CREA-RN, 23.920 são homens (85,37%) e 4.100 (14,63%) são mulheres. O RN foi o primeiro estado a eleger uma presidente em 1994, e atualmente, também conta com representação feminina em seu principal cargo.
A atual presidente, Ana Adalgisa, foi reeleita em 2020 com mais de 70% dos votos e segue no cargo até 2023. Engenheira civil com mestrado em Engenharia de Produção e doutorado em Ciência e Petróleo, iniciou no CREA como conselheira suplente em 2013 e ascendeu para a presidência pela primeira vez em 2017. Ela comenta sobre o pioneirismo do RN quanto à questão da equidade de gênero.
“Gosto sempre de contar a história para que as pessoas percebam o quanto já avançamos. Imagine que na década de 90 tivemos a primeira mulher presidente do CREA no Brasil, isso é um avanço significativo. Quando me formei e peguei minha carteira, vi que era uma mulher presidente e me surpreendi porque geralmente é um ambiente masculino, até pelos próprios locais de trabalho. Dra Zélia Santos para mim é uma referencia que abriu o caminho para que outras mulheres pudessem também ocupar o mesmo espaço. Dentro do nosso sistema, acredito que a grande diferença é que começamos a ter lideranças que servem de exemplo nos postos chaves”, aponta.
Sobre os registros ativos, a pandemia causou retração dos números de inscrições em 2020 mas o ano seguinte já apresentou uma recuperação, com alta de 3% na presença feminina em relação ao ano passado. No entanto, a recuperação ainda está abaixo do crescimento no período pré-pandêmico. Dentre os campos da Engenharia, 45,56% das mulheres estão na Engenharia Civil; 8,48% na Engenharia Agrônoma; 5,03% na Engenharia Eletricista; 4,07% na Engenharia Civil e Eng. de Segurança do Trabalho; 3,5% na Geologia; 2,03% na Engenharia Química; 1,95% Engenharia Mecânica; 1,93% Engenharia de Produção, e assim por diante em mais dezessete modalidades.
Como forma de consolidar a política de equidade de gênero no Sistema Confea/Crea e Mútua, todos os conselhos regionais aderiram ao Programa Mulher, iniciativa que busca trazer para discussão e reflexão assuntos que envolvam o público feminino presente na Engenharia, Agronomia e Geociências. Lançado no RN em 2021, o programa demonstra o compromisso da entidade com as medidas orientadas pela ONU para um desenvolvimento sustentável com protagonismo das mulheres.
Iniciativas como o CREA Jr, órgão acadêmico e sem fins lucrativos diretamente vinculado ao CREA-RN, chamam a atenção na formação de lideranças e valorização do setor. Dessa forma, jovens profissionais e estudantes podem se aproximar dos órgãos gestores para discutir o futuro e o papel social das profissões. Atualmente, tanto a presidente quanto a vice-presidente do Crea Jr no RN mulheres.
Engenheiras contam suas histórias na profissão
Atualmente diretora-presidente da Potigás, Larissa Dantas entrou na Universidade Federal do Rio Grande do Norte em 1989 para cursar Engenharia Civil por afinidade com a área de Exatas e apoio dos pais, empresários atuantes no setor. De início, a mudança do Instituto Maria Auxiliadora para os corredores da UFRN rapidamente deixou claro uma nova realidade: haviam menos mulheres naquele espaço.
Após sua formatura, Larissa passou a atuar na construção civil através da empresa de seus pais, onde precisou conquistar o respeito daqueles com quem trabalhava e comprovar sua capacidade em ambientes de obras e gestão. Em 2019, seu nome foi escolhido pela governadora Fátima Bezerra para assumir a Companhia Potiguar de Gás (Potigás), responsável exclusiva pela distribuição de gás natural canalizado no RN. O novo desafio foi encarado com muito entusiasmo e compromisso, já gerando frutos. No mês passado, Larissa foi indicada à vice-presidência do Comitê de Mercado de Gás da International Gas Union (IGU), organização mundial que tem como objetivo promover o avanço técnico e econômico da indústria do gás natural nos cinco continentes.
Como conselho para as novas lideranças, Larissa enfatiza que conhecimento é poder. “Atuo com mentorias de jovens nas universidades e sempre me pedem conselhos. É estudar e correr atrás. Mantenham a autoconfiança e se qualifiquem. Temos acesso ao conhecimento técnico na faculdade e em outros ambientes. Para nós, o mundo está aí, é preciso abrir o olho para as oportunidades e ajudarmos umas as outras. Ser mulher para mim foi favorável e a oportunidade que tenho hoje foi uma grande benção. Na minha posição, tudo que eu possa fazer para ajudar outras mulheres a chegaram nesses cargos irei fazer”, diz.
Mãe de três, Andrea Azevedo cursou Engenharia Civil em uma turma onde dos 60 alunos, apenas 16 eram mulheres. “Foi um dos anos que mais teve mulheres. Na Engenharia Química, ou Elétrica, você contava duas ou três mulheres por turma. Em Civil, esse número era maior. Sempre gostei muito de cálculo, de Matemática, e eu me lembro que quando estava decidindo o curso também gostava muito de ensinar. Pensei ‘vou fazer Matemática para ser professora’, minha mãe achou lindo e meu pai brincando me incentivou a fazer Engenharia”, relembra.
Hoje, Andrea atua como assessora técnica no CREA-RN, onde trabalha nas reformas e ampliações dos imóveis da instituição. Começou sua carreira como engenheira autônoma em uma empresa privada, passou pelas secretarias de obras do Município de Natal e Estado, voltando para o setor privado até receber a oportunidade de trabalho no Conselho. “Todas as profissões tem algo que influencia diretamente na vida dos outros. Meus filhos comentavam que eu trabalhava demais mas a Engenharia não tem nenhum cálculo fácil. No início, não precisava correr e buscar o sustento total da família pela ajuda do meu ex-marido mas sempre busquei um balanço nas minhas atividades como profissional e mãe. São vários desafios mas sou realizada”.
A presidente Ana Adalgisa acredita que a base de jovens profissionais está começando a se movimentar e protagonizar mudanças no perfil do setor. “Costumo dizer que não precisamos sair se matando para conquistar espaço, eles existem e o que precisamos é nos disponibilizar para ocupá-los. Não é guerra. Se você quer disputar, vai enfrentar alguns desafios que alguns não enfrentariam mas cabe a nós mulheres ocupar os locais existentes e termos força o suficiente para conquistá-los. Não é fácil e não vai cair do céu, precisamos ser fortes para dizer ‘vou conquistar e não tem quem me pare’”, finaliza.