A exportação de frutas do Rio Grande do Norte deverá sofrer uma redução em torno de 20% na safra que inicia no próximo mês. A Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas) e o Comitê Executivo de Fruticultura do Rio Grande do Grande do Norte (COEX-RN) apontam que fatores externos e econômicos deverão reduzir a quantidade de frutas exportadas pelo Rio Grande do Norte, especialmente o melão, carro-chefe da fruticultura potiguar. Mesmo assim, a expectativa da Secretaria Estadual de Agricultura e Pesca (Sape/RN) e da Companhia Docas do Rio Grande do Norte (Codern) é positiva. Na Safra 2021, o RN exportou U$$ 166 milhões em frutas e nozes não oleaginosas.
Tecnicamente, a exportação da próxima safra é calculada a partir da semana 34 de 2022, que começa no dia 22 agosto e se estende até a semana 20 de 2023, que inicia em 21 de maio. Apesar do bom desempenho anunciado no primeiro semestre, as expectativas não são tão boas para o futuro próximo. “A previsão é de que teremos uma produção menor esse ano, em torno de 15% a 20%, por conta do aumento de custo e dos insumos. O Euro está mais baixo e as chuvas foram muito fortes, então atrasou um pouco a safra”, explicou o produtor Luis Roberto Barcelos, diretor da Abrafrutas.
O câmbio, conforme ele falou, interfere neste processo porque as frutas vendidas para o exterior são negociadas em Euro e nas últimas semanas essa moeda ficou mais barata em comparação ao dólar pela primeira vez em 20 anos.
O diretor da Abrafrutas também cita problemas na logística como um fator preponderante para essa baixa expectativa. “Estamos com muito problema de espaço para embarcações e também de atraso nas rotas dos navios, que é uma questão mundial. Com tudo isso aí, a tendência é de exportarmos menos volume.
O melão é a principal fruta que o estado exporta. Foram produzidas mais de 300 mil toneladas da fruta na safra 2021/2022. Junto à melancia, ao mamão, a banana e a manga, o melão forma o top 5 das frutas mais produzidas.
Cerca de 40% das exportações de frutas do país saem de terras potiguares. No primeiro semestre, as frutas ajudaram a aumentar as exportações. “Cresceu bem por outros motivos, como a menor concorrência com a América Central, mas a gente vai cair no segundo semestre deste ano com relação ao segundo semestre do ano passado”, diz Luiz Roberto Barcelos.
Conforme os dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), as exportações no Rio Grande do Norte cresceram 122,6% no primeiro semestre de 2022, se comparado a igual período do ano passado, que teve soma de US$ 184 milhões em produtos exportados. A movimentação nos seis meses passados foi de US$ 408,7 milhões. Dentro do recorte, as frutas frescas e nozes foram o segundo produto mais exportado (15% das exportações e US$ 59,8 milhões exportados).
As informações da Secex indicam uma maior alta para o período desde 2011, representando quase 10 vezes mais do que o registrado no mesmo período daquele ano. As estatísticas apontam um saldo de US$ 24,7 milhões no passado e de US$ 219,4 milhões este ano – um crescimento de 788,25%.
O Secretário Estadual de Agricultura, Guilherme Saldanha, destaca que desde 2019 a fruticultura potiguar é destaque nacional. “É interessante vermos duas situações que ocorreram no primeiro semestre. O Rio Grande do Norte continua exportando fruta mesmo no período entressafra, no primeiro semestre que é quando ocorrem as chuvas que atrapalham um pouco a produção com qualidade”, disse ele.
Outro ponto destacado pelo secretário foi o aumento do volume exportado e, por isso, diz prevê que a próxima colheita será ainda melhor. ”A expectativa é muito boa para o segundo semestre que é quando ocorrem os maiores volumes. Temos trabalhado muito atraindo novas, introduzindo novas frutas como o trabalho na área de limão. Com certeza a gente vai caminhar no sentido de que continuaremos como maior exportador de fruta do Brasil”, prevê o secretário.
Produtores negociam reajuste de preços
Com a previsão de menos volume a ser vendido, os produtores estão negociando o reajuste dos preços para que não haja prejuízo. “Estamos tentando aumentar o preço do melão em Euro, então, talvez o valor não mude tanto, mas o volume certamente cairá”, diz Luis Roberto Barcelos, diretor da Abrafrutas.
O reajuste pretendido está em torno de 15% a 20% no preço das frutas mas, de acordo com o presidente do Comitê Executivo de Fruticultura do Rio Grande do Grande do Norte (COEX-RN), Fábio Queiroga, não deve cobrir o volume movimentado. Representando 32% de tudo o que se exportou em 2021, as frutas (frescas ou secas) e nozes não oleaginosas movimentaram U$$ 166 milhões.
“Temos previsão de uma safra de 20% menor que a safra passada. Espera-se um ajuste de 15% a 20% do que foi negociado na safra passada, mas o volume total deve ficar um pouco abaixo” , disse Queiroga.
Ele confirma a previsão de uma redução nas exportações de frutas atribuindo à guerra entre Rússia e Ucrânia, que gera uma crise na logística internacional, com falta de navios e contêineres que vem prejudicando o comércio internacional, pois se reflete no custo do frete. “Além do alto custo da produção no Brasil que a gente não consegue repassar para nossos clientes na Europa, esse momento da guerra na Ucrânia tem afetado o mercado europeu podendo resvalar em outros mercados consumidores nossos. A própria Rússia é um cliente importante que não vai consumir nossos produtos dessa vez”, explicou.
Neste sentido, diz que os volumes precisam ser ajustados para não gerar prejuízo. “Precisamos ajustar os volumes para que não exceda, pois qualquer excesso impacta fortemente sobre o valor que estarão dispostos a nos pagar. A logística marítima é outro problema com espaços mais reduzidos para essa safra e, ainda, o valor do frete dobrou”, conta o produtor.
Codern espera movimento estável no porto
A Companhia Docas do Rio Grande do Norte (Codern) informou que o porto de Natal deve manter a movimentação estável nas exportações. Segundo a autarquia, é natural em período de inverno prolongado a redução na produção de frutas, como prevê a Abrafrutas e o COEX, além de vários fatores externos que contribuem diretamente com esse mercado, como as questões econômicas internacionais, a guerra da Rússia e Ucrânia, e os impactos da pandemia que ainda são sentidos.
“Mas confiamos que, pelo menos, manteremos a movimentação do Porto de Natal dentro da média, até porque temos os outros produtos, como trigo e açúcar. E temos as perspectivas de, em breve, termos também os equipamentos de empresas de eólicas e petróleo”, informou a companhia, que administra o terminal.
O Porto de Natal movimentou 277.910 toneladas no primeiro semestre de 2022, representando um crescimento de 9,19% em comparação com o mesmo período do ano passado, quando foram movimentadas 254.518 toneladas. O destaque foi o aumento nas frutas exportadas para a Europa, que cresceu 6,05%, com 95.527 toneladas embarcadas. No mesmo período de 2021, a quantidade movimentada do produto foi de 90.075 toneladas.
A Codern ressaltou que o equipamento tem na exportação de frutas seu grande destaque, sendo a maior de toda a movimentação do terminal. De acordo com a Companhia, os números mostram o know-how do terminal de Natal no apoio ao manuseio para embarque deste produto. Somado a isso, a importação de trigo complementa os números.
Porém, os dados da Secex apontaram que os combustíveis representam a maior parte dos produtos embarcados no primeiro semestre. Equivalem a 59% das exportações totais, somando US$ 242 milhões exportados e apresentaram um crescimento de 276% no comparativo com mesmo período do ano passado.
Depois vêm as frutas frescas e nozes (15% das exportações e US$ 59,8 milhões exportados); tecidos e telas (3,9% e US$ 15,8 milhões) e indústria de transformação (3,5% e US$ 14,5 milhões).
Minerais em estado bruto correspondem a 3,5% com US$ 14,1 milhões em exportações, pescado inteiro representa 3,1% com US$ 12,7 milhões exportados, e matéria bruta de animais que soma US$ 11,3 milhões, representando 2,8%; açúcares e melaços contribuíram com 2,4% (US$ 9,74 milhões), e pedras preciosas com 1,6% das exportações potiguares no semestre (US$ 6,56 milhões), seguidas de filés e outras carnes de peixes (1,5% e US$ 6,25 milhões), chapas, folhas e películas (1,4% e US$ 5,52 milhões).
Números
U$$ 166 milhões
foi a soma das exportações de frutas e nozes não oleaginosas do RN em 2021
32%
das exportações do RN foram em frutas em 2021
US$ 59,8 milhões
foi a soma das exportações de frutas e nozes não oleaginosas do RN no 1º semestre deste ano
Fonte: Secex