Litro da gasolina comum chega a R$ 7,99 em Natal

Após o novo reajuste promovido pela Petrobras nas refinarias na quinta-feira (10), o preço do litro da gasolina já chegou a R$ 7,99 em  postos de combustíveis de  Natal. Segundo a empresa, o litro da gasolina ficou 18,8% mais caro, enquanto que o do diesel subiu 24,9% para as distribuidoras. O reajuste está relacionado com a redução na oferta global dos produtos, como consequência da guerra entre Rússia e Ucrânia.

Horas após o anúncio do aumento nos preços às distribuidoras de combustível, o litro da gasolina comum já era encontrado por R$ 7,99 em dois postos da Avenida Ayrton Senna, zona Sul da cidade. Além deste, outro estabelecimento na Avenida Prudente de Morais, em Lagoa Nova, também trazia o novo preço.   Nos locais analisados, o litro da gasolina aditivada custava R$ 8,10.

O martírio de abastecer o carro no Rio Grande do Norte só aumentou ao longo dos últimos meses. Encher o taque  ficou 20,4% mais caro em um ano. Em março de 2021, o potiguar precisava desembolsar R$ 285,50 para encher um tanque de 50 litros, por exemplo, enquanto que hoje a mesma quantidade de combustível está custando R$ 343,65 em média. O cálculo foi feito em cima do preço médio do litro de R$ 6,873, segundo dados do início da semana da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).  

E a tendência é de que o valor fique ainda mais salgado, de acordo com especialistas ouvidos pela TRIBUNA DO NORTE. Contudo, ainda não é possível estimar a evolução dos reajustes devido ao cenário de incerteza relacionado ao conflito entre Rússia e Ucrânia, que  ganham novos capítulos todos os dias.

Na terça-feira (8), o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou a suspensão da importação de petróleo, gás natural e carvão da Rússia em uma tentativa de impactar a economia do governo Vladimir Putin. O embargo  aumentou a pressão da oferta do barril de petróleo, como explica o economista Janduir Nóbrega.

“O mercado brasileiro hoje não tem o poder de produzir e refinar [petróleo] para atender o mercado interno. É preciso estar atento a isso. Vamos precisar do mercado externo para solucionar os problemas do interno. Como é necessário adquirir matéria-prima externa, o Brasil vai estar na paridade do preço internacional, que é a própria variação de preço e o câmbio. O que é bem claro para mim hoje é que nós vamos ter nos próximos vinte dias uma majoração dos preços e o valor tende a chegar até onde o bolso do consumidor aguentar pagar”, analisa.

Outro fator que deve jogar o preço do combustível para cima é um novo reajuste nos preços da gasolina e no diesel para as distribuidoras, anunciado pela Petrobras na quinta-feira (10). 

Segundo a estatal, a readequação ocorre após 57 dias sem aumentos. Os valores vão subir 18% para a gasolina e 24,9% no diesel. Segundo a Petrobras, o movimento vai no mesmo sentido de outros fornecedores de combustíveis no Brasil que já promoveram ajustes nos seus preços de venda. Apesar da disparada dos preços do petróleo e seus derivados em todo o mundo, em decorrência da guerra entre Rússia e Ucrânia, a companhia afirmou que decidiu não repassar a volatilidade do mercado de imediato.

Para o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do RN (Sindipostos), Maxwell Flor, no momento, não é possível precisar o impacto do aumento porque o preço final da gasolina depende de impostos e das margens de lucro de distribuidores e revendedores. O preço médio da gasolina para as distribuidoras passará de R$ 3,25 para R$ 3,86 por litro. Para o diesel, o valor médio passará de R$ 3,61 para R$ 4,51.

“Esse aumento foi repassado pela Petrobras para as refinarias, mas as distribuidoras são livres para repassar o que elas têm de custo. Muitas delas hoje importam também porque a Petrobras não dá conta de fornecer toda a necessidade do país, portanto esses aumentos já estavam sendo repassados para a gente para a revenda, em função do custo do importado. A Petrobras vinha segurando esse aumento dela e agora veio esse reajuste tardio, digamos assim, que a gente já estava esperando”, detalhou Flor.

Guerra impacta política de preços da Petrobras 

A política de preços da Petrobras, que segue uma tendência do mercado global dentro de uma lógica que acompanha o comércio de outras commodities do mercado brasileiro, como produtos agrícolas, minérios e metais, que têm seus valores associados à variação das cotações internacionais e taxas cambiais diferentes. Segundo a companhia, a medida de paridade é considerada fundamental para que o mercado brasileiro siga sendo suprido sem riscos de desabastecimentos. Em 24 de fevereiro passado, a Petrobras afirmou que estava monitorando a evolução da crise entre Rússia e Ucrânia.

Rodrigo Costa, diretor executivo de Refino e Gás Natural, disse que a Petrobras está acompanhando todo o movimento da nova realidade de suprimentos de gás natural liquefeito (GNL) dos Estados Unidos para Europa, África e Ásia, em razão da crise entre os dois países em guerra, tendo em vista que parcela significativa do gás importado pelo Brasil vem dos Estados Unidos. A reportagem da TN pediu novo posicionamento da estatal sobre os impactos da guerra nos combustíveis, mas não teve retorno até o fechamento desta edição.

Nóbrega explica que enquanto Rússia e Ucrânia permanecerem em combate no campo bélico, o cenário de incerteza deve prevalecer. “Ainda não sabemos até quando o preço vai permanecer o mesmo, se serão congelados e depois descongelados. Existe ainda a prerrogativa da mudança da política de preços, mas tudo ainda muito incerto. Por outro lado existe a oportunidade da Petrobras aumentar a produção e o refino e o impacto ser menos acentuado”, detalha Janduir Nóbrega, que também é professor universitário.

Enquanto os preços seguem em alta e com tendência de aumentos futuros, o motorista potiguar vai se desdobrando para conseguir amenizar os efeitos da crise. É o caso do motorista de aplicativo Arnóbio da Cunha. “Está ruim para nós porque a gasolina não está compensando. Eu estou usando o álcool porque está mais barato para as minhas viagens. Se você fizer uma regrinha de três, pega o valor do álcool e divide pelo da gasolina, se der 70% compensa colocar etanol. Assim a gente vai se virando para não ter muita perda”, afirma o profissional.

Globalmente os efeitos da guerra já são sentidos fortemente. O conflito por si só já havia elevado o preço do barril do petróleo a US$ 139,13 antes da sanção imposta pelos EUA ao Kremlin, movimento que deve jogar o preço do combustível para cima. A Rússia é uma das principais exportadoras de petróleo do mundo, com cerca de 7 milhões de barris por dia. “O cenário a curto prazo não é de resolução e com esse não cessar-fogo, as sanções decorrentes de vários países, principalmente dos EUA, trazem para a gente, na esfera dos combustíveis, uma tendência de aumento. Aumentos que já podem ser encontrados na bomba”, diz Henrique Souza, professor de administração e mercado financeiro.

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