Patrício Júnior
Ultimamente tenho feito peregrinações por algumas “Mecas nordestinas” tentando entender o significado da fé, da minha fé, inclusive!
Subí o horto do Padre Cícero na região do Cariri cearense e encontrei tanta devoção e particularidades sutís que fizeram-me de imediato relembrar a minha infância vivida ali, ao lado, da estátua do velho padim quando ainda eu morava no Crato, cidade vizinha ao Juazeiro do Norte. Estive também subindo o Monte do Galo em Carnaúba dos Dantas e nos Impossíveis sonhos agradecí a felicidade de ser livre como um ser pulsante e ainda pude contemplar as pedras gigantes daquele lugar e o calor humano de sua gente e do sertão seridoense, berço do meu patriarca.
Recepcionado recentemente em Santa Cruz por uma multidão ávida de peregrinos indo ao santuário de Santa Rita, nem consegui subir à serra de onde a estátua da referida santa está localizada, tamanho o vai-e-vem de pessoas, ônibus, carros de passeio e gente, muita gente sob à poeira de milhares de fiéis. Na cidade de Florânia também escalei a serra para reencontrar a fé e tentar dissipar as minhas tantas dores guardadas sob o manto sagrado de Nossa Senhora das Dores, auxiliadora dos que carregam essas e tantas dores cultivadas durante o tempo e que, inexplicavelmente, costumam ainda doer muito mais do que as cicatrizes de tantas outras do passado.
Domingo, ontem, subí a serra do Lima onde está o santuário localizado na cidade de Patu na região do Médio Oeste Potiguar. Fui (fomos) com a costumeira caravana: eu, minha esposa e nossa brava motocicleta! Uma subida quase solitária somente preenchida pelo som das águas descendo e lavando as pedras lisas da serra, numa atmosfera de muita paz e reflexão. E que lugar lindo: tranquilo; supreendentemente calmo, vivo e lúcido!
Nesse turbilhão de emoções não pude deixar de pensar: com quantas Ave-Marias se faz um peregrino? Talvez a minha capacidade racional não saiba explicar a fé que acampa nessas pessoas que visitam santuários, igrejas, capelas, mesquitas, terreiros, templos, missas, novenas e tantas outras manifestações da fé e da religião que se professa. Talvez eu ainda tenha que percorrer muitos caminhos de Santiago de Compostela para começar a entender o tamanho da fé do povo e da minha própria fé! Talvez eu precise desamarrar todos os nós culturais e, de uma vez por todas, poder realmente ter um olhar mais depurado dos que caminham em busca do Criador. E nesses muitos “talvez” eu encontre a resposta dessa fé peregrina, culturalmente peregrina e que torna os caminhos de Santiago, do Monte do Galo, do Horto do cariri, serra do Lima, estátua de Santa Rita e tantos outros o mesmo caminho que um dia estarei percorrendo ao encontro de nossa Beata Lindalva, genuinamente assuense, merecedora também de um santuário e da mesma fé que ultrapassa fronteiras, divisas e segue sua rota direto aos nossos corações: a mesma rota da fé!